Resenha: Vida em Comunhão

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O livro Vida em Comunhão, escrito pelo admirado alemão Dietrich Bonhoeffer, tem como objetivo nos ensinar a valorizar a comunhão de vida entre irmãos e irmãs na fé. Esta obra foi escrita logo após o acontecimento ocorrido em 1937, onde agentes da Gestapo fecharam o seminário clandestino ligado à Igreja Confessante (crítica ao regime nazista) que ele dirigia. Depois de viver por um bom tempo em reclusão com cerca de vinte estudantes de teologia, neste seminário, Bonhoeffer começa a experimentar um tempo de solidão, devido ao aumento das perseguições. Alguns só entenderam a comunhão quando não puderem mais saboreá-la.

O livro, que contém 108 páginas, é divido em cinco capítulos, sendo o primeiro sobre a comunhão.  Dietrich começo nos mostrando que o fato dos cristãos já agora, no presente século, puderem desfrutar de uma comunhão visível, é uma antecipação misericordiosa de Deus das coisas derradeiras. Ele diz que “a presença física de outros cristãos constitui para o cristão uma fonte de alegria e fortalecimento inseparáveis”[1]. Mas que, nem todos cristãos desfrutam desta dádiva, as pessoas presas, doentes, solitárias, que pregam o evangelho em terras pagãs não têm tais privilégios. E para essas pessoas um único momento com um irmão na fé pode ser visto como um sinal da misericórdia de Deus em sua vida, o que facilmente, pode passar despercebido, ou até mesmo ser desprezado, por aqueles que usufruem desse privilégio diariamente.

Ainda no primeiro capítulo Bonhoeffer argumenta sobre uma questão muito pertinente em nossos dias, a busca pela comunidade, comunhão, perfeita. E de como isso, esse ideal de comunhão, pode acabar com a verdadeira comunhão. O autor também traça uma diferença, muitíssimo interessante, entre a comunhão pneumática e a comunhão anímica. Aquela é fundamenta na palavra de Deus clara e revelada em Cristo; já esta é fundamentada em estímulos e anseios obscuros e turvos da alma humana. “Como é bom, como é agradável habitar todos juntos como irmãos!” (Salmos 133.1).

Já no segundo capítulo Bonhoeffer discorre sobre a devoção matinal, a qual é composta por: a palavra da Escritura, os hinos da igreja e a oração da comunidade. Ao decorrer do capítulo ele explana cada um desses três pilares de uma forma magnífica. Além disso, ele também disserta sobre a questão dos Salmos como oração. Assumo que, nunca tinha lido nada equivalente. Depois de ler e entender cada palavra escrita por esse alemão na explanação de tal tema, admito que o livro Orando com os Salmos[2], também dele, se tornou preferência entre as minhas próximas leituras.

No terceiro capítulo, A Solidão Diária, Bonhoeffer começa traçando seu pensamento acerca do silêncio, uma das características da solidão, e de como ele se faz necessário, e importante, caso seja usado da forma certa. Logo após isso, Dietrich nos mostra três atitudes que devem fazer parte da rotina de um cristão, sendo elas: a meditação na Palavra, a oração e a intercessão. Assim como no segundo capítulo, ele, aqui também explana cada um desses três pilares. E argumenta o porquê desses momentos serem necessários, mesmo já tendo-os na devoção conjunta. Ele deixa claro que “isso não tem nada haver com legalismo, isso é disciplina e fidelidade”.[3]

Bonhoeffer começa o quarto capítulo com uma passagem muito famosa, onde os discípulos, os doze, têm uma discussão sobre qual deles seria o maior (Lc 9.46). Ele nos mostra como essa ‘disputa’ surge inconscientemente em nosso meio, e de como ela é danosa para comunhão, podendo até levá-la à ruína. Como Dietrich nos mostra no decorrer do livro, uma de suas características é o fato de não se deixar nenhum problema sem solução, e é isso que ele faz também neste capítulo. Logo após mostrar tal problema, nos é apresentada a solução do mesmo.

Ainda no mesmo capítulo, Serviço, Dietrich explana sobre a questão do trabalho. Imediatamente ele nos mostra que o serviço da Palavra de Deus não é o único serviço, mesmo que, todos os outros estão orientados para ele. Bonhoeffer escreve que “a comunidade cristã não se constitui só de pregadores”[4]. Após isso ele descreve os outros tipos de serviços que são de extrema importância para saúde da comunidade.

“Na comunhão cristã, tudo depende de que cada pessoa se transforme num ele indispensável de uma corrente. A corrente será inquebrável só quando o menor elo engrenar com firmeza também. Uma comunidade que tolera a existência de membros que não são aproveitados irá à ruína através deles. Será, pois, conveniente que cada pessoa receba uma tarefa determinada dentro da comunidade, para que, em momentos de dúvida, saiba que também ela não é inútil e inaproveitável. Toda comunhão cristã deve saber que não apenas os fracos necessitam dos fortes, mas que também os fortes necessitam dos fracos. A exclusão dos fracos é a morte da comunhão”.  (Bonhoeffer, 1983)[5]

Por fim, Bonhoeffer nos dá um desfecho excepcional, onde ele termina nos falando sobre a confissão fraternal, de sua importância, e de como ela nos ajuda a vencer o pecado. Antes da leitura do último capítulo, Confissão e Santa Ceia, eu já tinha certo pensamento sobre o assunto, mas após tal leitura, ele esse expandiu demasiadamente. “Foi o próprio Cristo que sofreu publicamente em nosso lugar a morte-vergonha do pecador. Não se envergonhou de ser crucificado como malfeitor. E não é nada mais que a comunhão com Jesus Cristo que nos conduz à morte vergonhosa de Cristo. Essa cruz destrói a soberba”, diz o autor.[6]

Levando em conta que os cristãos de hoje não compreendem de fato a vida cristã em comunhão, essa obra se faz extremamente necessária. Caso seja possível, aconselhá-lo-ias a fazerem a essa leitura em grupo. Juntem aqueles que partilham da fé em Cristo, e leiam este livro com intuito de crescer em fé e comunhão. O livro requer um pouco de dedicação para entendê-lo corretamente, portanto ao lê-lo, faça de tudo para se focar totalmente. E volte quantas vezes for necessária. Pois, ele usado de maneira correta, tem um valor imensurável para Igreja contemporânea. Pretendo lê-lo muitas vezes no decorrer da minha vida cristã, portanto, o recomendo veemente.    

Especificações

Autor: Dietrich Bonhoeffer
Páginas:  108
Editora: Editora Sinodal
Sinopse: Mestre da espiritualidade contemporânea, Bonhoeffer nos ensina a valorizar a comunhão cristã e a vida em comunidade, o compartilhar de vida entre irmãos e irmãs na fé. Sobressaem nesta obra a importância da libertação total da pessoa, livre de toda hipocrisia e a aceitação irrestrita entre as pessoas. A comunhão de que fala Dietrich Bonhoeffer não é a comunhão de pessoas justas, mas de justificadas, libertas pela graça de Deus.
Onde comprar: https://www.editorasinodal.com.br/produto/96357/vida-em-comunhao

                     

[1] Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão (Editora Sinodal, 1983), p. 11
[2] O livro Orando com os Salmos, escrito pelo alemão Dietrich Bonhoeffer foi publicado no Brasil pela editora Encontro. No livro Orando com os Salmos ele compartilha sua experiência de oração como o saltério, prestando um auxílio indispensável para a nossa vida de oração pessoal e comunitária
[3] Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão (Editora Sinodal, 1983), p. 75
[4] Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão (Editora Sinodal, 1983), p. 85
[5] Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão (Editora Sinodal, 1983), p. 82
[6] Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão (Editora Sinodal, 1983), p. 100

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